Primeiras impressões
O segundo caderno da Zero hora dá início á temporada
Artista na Plateia, em que críticos e artistas de diferentes áreas comentam algumas das grandes atrações do 17º Porto Alegre Em Cena, compartilhando seu olhar e suas reflexões com o público.
Artista na Plateia, em que críticos e artistas de diferentes áreas comentam algumas das grandes atrações do 17º Porto Alegre Em Cena, compartilhando seu olhar e suas reflexões com o público.
A seguir, confira as impressões do coreógrafo Airton Tomazzoni sobre o espetáculo Tobari do grupo japonês Sankai Juku.
A dança da luz e da escuridão
Cuidado! Tobari, espetáculo apresentado pelo grupo Sankai Juku, na quinta-feira no Teatro do Sesi, pode dar sono e me deu. E já me explico. Não falo aqui de um estado que nos dá tédio ou cansaço, mas sim de um estado de quem se permite ir se entregando à escuridão e, possivelmente, ao sonhar. Pois a experiência de assistir à montagem do grupo japonês é a de ter atravessado um sonho. Um sonho que vai do sublime ao grotesco, que vai povoando nosso imaginário com paisagens de uma geografia ficcional que se desenha e de dissipa tão logo tenham sido esboçadas.
Num tempo de hiperestimulação e aceleração constante, o Sankai Juku suspende o tempo e nos permite ancorar. Sem ansiolíticos ou controladores de possíveis déficits de atenção, somos convidados a contemplar e apreciar sem pressa. As coreografias parecem feitas de gestos que escapam do esquecimento e se distendem, se prolongam. O resultado é que um mundo vai se revelando diante de nós, repleto de formas que fazem da precariedade dos corpos em cena sua matéria-prima. Seres e criaturas difíceis de nominar transitam pelo palco. Às vezes como galhos de árvores se retorcendo ao vento, às vezes similares a animais ou microorganismos, às vezes num bailado cósmico de corpos celestes. O coreógrafo do grupo, Ushio Amagatsu, já afirmou que sua intenção não é transmitir nada, mas sim articular uma linguagem corporal que permita uma viagem particular a cada espectador. E nisso o trabalho é exitoso, em partituras potentes e precisas em cada pequeno movimento.
Comparado a Kagemi, a primeira montagem que esteve no POA em Cena de 2007, o espetáculo é menos suntuoso e mais árido. O que de certa maneira talvez provoque menos impacto, mas exponha mais, de maneira radical e minuciosa, como se frestas de luz fossem lançadas em recantos até então obscuros. Aliás, Ankuko butô, nome completo dessa dança que nasceu em 1959 no Japão com Tatsumi Hijikata, pode ser traduzido como dança das trevas ou dança da escuridão. Como na cena final, na qual os intérpretes parecem se lançar na infinitude do universo, ficamos nós, fitando a escurdião sem fim, cravejada de pequenos, fascinantes e indecifráveis pontos de luz.
Cuidado! Tobari, espetáculo apresentado pelo grupo Sankai Juku, na quinta-feira no Teatro do Sesi, pode dar sono e me deu. E já me explico. Não falo aqui de um estado que nos dá tédio ou cansaço, mas sim de um estado de quem se permite ir se entregando à escuridão e, possivelmente, ao sonhar. Pois a experiência de assistir à montagem do grupo japonês é a de ter atravessado um sonho. Um sonho que vai do sublime ao grotesco, que vai povoando nosso imaginário com paisagens de uma geografia ficcional que se desenha e de dissipa tão logo tenham sido esboçadas.
Num tempo de hiperestimulação e aceleração constante, o Sankai Juku suspende o tempo e nos permite ancorar. Sem ansiolíticos ou controladores de possíveis déficits de atenção, somos convidados a contemplar e apreciar sem pressa. As coreografias parecem feitas de gestos que escapam do esquecimento e se distendem, se prolongam. O resultado é que um mundo vai se revelando diante de nós, repleto de formas que fazem da precariedade dos corpos em cena sua matéria-prima. Seres e criaturas difíceis de nominar transitam pelo palco. Às vezes como galhos de árvores se retorcendo ao vento, às vezes similares a animais ou microorganismos, às vezes num bailado cósmico de corpos celestes. O coreógrafo do grupo, Ushio Amagatsu, já afirmou que sua intenção não é transmitir nada, mas sim articular uma linguagem corporal que permita uma viagem particular a cada espectador. E nisso o trabalho é exitoso, em partituras potentes e precisas em cada pequeno movimento.
Comparado a Kagemi, a primeira montagem que esteve no POA em Cena de 2007, o espetáculo é menos suntuoso e mais árido. O que de certa maneira talvez provoque menos impacto, mas exponha mais, de maneira radical e minuciosa, como se frestas de luz fossem lançadas em recantos até então obscuros. Aliás, Ankuko butô, nome completo dessa dança que nasceu em 1959 no Japão com Tatsumi Hijikata, pode ser traduzido como dança das trevas ou dança da escuridão. Como na cena final, na qual os intérpretes parecem se lançar na infinitude do universo, ficamos nós, fitando a escurdião sem fim, cravejada de pequenos, fascinantes e indecifráveis pontos de luz.
Airton Tomazzoni
Coreógrafo e diretor do Grupo Experimental de Dança da Cidade
Zero Hora- Segudo Caderno- Sábado 11/09/2010
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