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O Grupo Experimental de Dança da Cidade surge com o objetivo de possibilitar a formação continuada em dança. Idealizado pelo Centro Municipal de Dança, da Secretaria Municipal da Cultura de Porto Alegre, busca criar a oportunidade para jovens complementarem a sua formação em dança e puderem ter maiores oportunidades profissionais na área.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

A diversidade e qualidade da produção do Grupo Experimental de Dança de Porto Alegre


A diversidade e qualidade da produção do Grupo Experimental de Dança da Cidade. O videodança Inspiração acaba de ser selecionado para particpar do evento Terceira Margem, dentro da programação da Bienal Internacional de Dança do Ceará, um dos mais antigos e conceituados eventos de dança contemporânea do Brasil.Com o tema Tomar Lugar – Corpo e Performance, esta edição tem o objetivo de ativar a dança em sua relação com outras linguagens, com a cidade, o lugar.

Inspiração foi a primeira produção do Grupo Experimental no gênero do videodança, gravado em junho no Aeroporto Internacional Salgado Filho. O vídeo foi selecionado para o Festival Internacional de Videodanza de Buenos Aires, onde foi exibido no dia 1o de setembro junto com obras da França, Canadá, Espanha, Japão e Argentina.



Fotos: Marcelo Pacheco

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

O mundo de Marlboro- Lonesome Cowboy


Primeiras impressões

O segundo caderno da Zero hora dá início á temporada Artista na Plateia, em que críticos e artistas de diferentes áreas comentam algumas das grandes atrações do 17º Porto Alegre Em Cena, compartilhando seu olhar e suas reflexões com o público.
A seguir, confira as impressões do coreógrafo Airton Tomazzoni sobre o espetáculo Lonesome Cowboy da Cia Philippe Saire, da Suíça.




O mundo de Marlboro

Em tempos pós-modernos, nos quais falar de uma masculinidade, no singular, parece descabido, algumas marcas dessa tal masculinidade ainda ecoam insistentemente. Esse é o tema que o espetáculo Lonesome cowboy traz com sua dança. Em uma coreografia enxuta, cenografia eficientíssima e iluminação competente e precisa, esboçam-se belas imagens e metáforas. Cinco bailarinos se confrontam em uma arena, que por vezes parece um ringue, por vezes um campo de futebol de gramado sombrio. O quinteto é cercado por luzes que revelam e escondem, como as luzes intensas de um estádio ou penumbráticas, porém denunciantes, como as de uma penitenciária.
A Cia de Philippe Saire, da Suiça, investe nas marcas que insistem em ser invocadas pela figura do macho que precisa assegurar sua supremacia à força, como um chamado da natureza ao qual se é incapaz de escapar. Assim, aparecem em cena constantes confrontos e disputas, que revelam o apuro técnico dos interpretes, que se prolongam e se desdobram. O que dá conta do que a obra pretende tratar, mas não abre espaço para ambigüidades e complexidades que tal contexto desenha.
As nuances se esboçam mesmo com plenitude, em um trio, mais ao final do espetáculo, no qual a Companhia mostra todo seu domínio técnico, criatividade e humor em um excelente jogo corporal de muitos sentidos, composições que não respondem às expectativas de hombridade. Talvez essa seja a melhor síntese do espetáculo, quando os movimentos e os corpos brincam com os duplos sentidos tão presente no discurso e brincadeiras masculinos. E aí, consegue subverter a ordem que impera no palco. Em outros tempos, a publicidade de cigarros idealizou um mundo exclusivamente masculino dos cowboys, convidando a que todos identificados com esse apelo viessem para o mundo de Marlboro, garantia de uma certa brutalidade indomável. Ao revisitar a figura do cowboy, o espetáculo revisita algo que vem sendo desmistificado no cinema (Brokeback Mountain), na literatura (Midnight Cowboy) e até mesmo nas novelas (América). Contudo, o mundo ainda é povoado talvez pela sua pior faceta, seja a dos hooligans capazes de espancar um adversário até a morte, seja a das gangues que agridem imigrantes e gays, seja o da misoginia. Mitos bem reais que vão além de cowboys solitários engolindo uma bebida forte e dizendo palavrões. Lonesome cowboy coloca em xeque esses heróis, mas querendo acreditar que tudo não passa de uma eterna briguinha entre amigos que se entenderão depois de mais um gole.



Airton Tomazzoni, coreógrafo e diretor do Grupo Experimental de Dança da Cidade



Zero hora - Segundo Caderno- 15/09/2010

Tobari- grupo japonês Sankai Juku


Primeiras impressões


O segundo caderno da Zero hora dá início á temporada
Artista na Plateia, em que críticos e artistas de diferentes áreas comentam algumas das grandes atrações do 17º Porto Alegre Em Cena, compartilhando seu olhar e suas reflexões com o público.
A seguir, confira as impressões do coreógrafo Airton Tomazzoni sobre o espetáculo Tobari do grupo japonês Sankai Juku.





A dança da luz e da escuridão

Cuidado! Tobari, espetáculo apresentado pelo grupo Sankai Juku, na quinta-feira no Teatro do Sesi, pode dar sono e me deu. E já me explico. Não falo aqui de um estado que nos dá tédio ou cansaço, mas sim de um estado de quem se permite ir se entregando à escuridão e, possivelmente, ao sonhar. Pois a experiência de assistir à montagem do grupo japonês é a de ter atravessado um sonho. Um sonho que vai do sublime ao grotesco, que vai povoando nosso imaginário com paisagens de uma geografia ficcional que se desenha e de dissipa tão logo tenham sido esboçadas.
Num tempo de hiperestimulação e aceleração constante, o Sankai Juku suspende o tempo e nos permite ancorar. Sem ansiolíticos ou controladores de possíveis déficits de atenção, somos convidados a contemplar e apreciar sem pressa. As coreografias parecem feitas de gestos que escapam do esquecimento e se distendem, se prolongam. O resultado é que um mundo vai se revelando diante de nós, repleto de formas que fazem da precariedade dos corpos em cena sua matéria-prima. Seres e criaturas difíceis de nominar transitam pelo palco. Às vezes como galhos de árvores se retorcendo ao vento, às vezes similares a animais ou microorganismos, às vezes num bailado cósmico de corpos celestes. O coreógrafo do grupo, Ushio Amagatsu, já afirmou que sua intenção não é transmitir nada, mas sim articular uma linguagem corporal que permita uma viagem particular a cada espectador. E nisso o trabalho é exitoso, em partituras potentes e precisas em cada pequeno movimento.
Comparado a Kagemi, a primeira montagem que esteve no POA em Cena de 2007, o espetáculo é menos suntuoso e mais árido. O que de certa maneira talvez provoque menos impacto, mas exponha mais, de maneira radical e minuciosa, como se frestas de luz fossem lançadas em recantos até então obscuros. Aliás, Ankuko butô, nome completo dessa dança que nasceu em 1959 no Japão com Tatsumi Hijikata, pode ser traduzido como dança das trevas ou dança da escuridão. Como na cena final, na qual os intérpretes parecem se lançar na infinitude do universo, ficamos nós, fitando a escurdião sem fim, cravejada de pequenos, fascinantes e indecifráveis pontos de luz.



Airton Tomazzoni
Coreógrafo e diretor do Grupo Experimental de Dança da Cidade




Zero Hora- Segudo Caderno- Sábado 11/09/2010